No seu corpo frágil, a simpatia e a grandeza da obra realizada.
Fui um dos professores de Helena em 1958. Seu propósito então, no início de carreira, era compreender a arte ocidental. Esta, segundo me disse, lhe parecia muito mais livre do que a arte chinesa cujas regras básicas havia aprendido. Na ocasião eu tinha visto algumas aquarelas e desenhos a pastel esplêndidos que já mostravam seu grande talento. Resolvi então, argumentar no sentido oposto a sua opinião. Disse a ela que para mim a arte da China era igualmente livre ao valorizar as pinceladas de um desenho fluido que era quase uma extensão da sensível caligrafia. Destaquei o tratamento diferente e refinado das manchas e finalmente o panteísmo dos princípios do Yang e Yin (masculino e feminino ) que eram a base milenar da arte chinesa. Atenta e muito curiosa, ela perguntou se na arte do ocidente havia pontos de vista parecidos, respondi que talvez nossa metafísica tangenciasse certas visões do oriente, ao examinar questões como espaço, tempo, dialética, universais, que por sua vez condicionam outras disciplinas importantes que se refletem na arte, como a psicologia, imanência e transcendência, etc. Penso que esse diálogo foi útil para a arte de Helena.
Nas aulas seguintes, combinamos aproveitar o tempo para a troca de ideias, reduzindo ao mínimo as consultas, a história da arte e outras disciplinas como estrutura da figura, composição e claves plásticas.
Durante as últimas aulas, eu estudava os textos de Paul Klee e essa foi uma boa oportunidade de transmitir a ela suas ideias de uma pintura absoluta, tendo como fundamento a psicologia (Freud-Jung), e a metafisica. Nesse aspecto de sua obra, é conhecido o destaque por ele dado aos arquétipos. A frase de Klee que Helena mais apreciava era: ”A arte torna visível”. Talvez pensasse num complemento da frase. Chegou a me perguntar, acrescentei que a força da frase estava exatamente no imponderável que ele situava na estética.
A vida interrompeu nosso diálogo. Só voltei a conversar com Helena Wong muitos anos depois quando ela visitou meu estúdio em Curitiba. Na ocasião eu pintava o painel do Grupo dos Onze. Sua visita foi ótima e descontraída. Fiquei satisfeito quando ela disse que gostou e com humor reconheceu seus colegas e amigos João Ozorio e Ida Hanemann de Campos - com as respectivas paletas em punho. Helena continuava curiosa e quis saber detalhes sobre o painel. Brinquei dizendo que seria impraticável pintar os onze colegas após um churrasco, e que essa tarefa tornou-se possível, porque o Max Conradt Jr. que encomendou o quadro, havia programado pacientemente as poses de cada artista.
Fiquei depois na saudade e na certeza que a sua energia brilhará para sempre.
Finalizo com estas profundas e instigantes palavras de Helena Wong em1964: “Creio que essa vida racional ocupa apenas uma pequena parte de nós e de nossas ações. Um outro mundo, um eu selvagem, irracional e monstruoso, mas coberto de um véu invisível, este é o que comanda o mais íntimo do nosso ser. Um ser insaciável de máximos extremos. Talvez um mundo transfigurado, deformado no mais absoluto subjetivismo. Este mundo procura sua correspondente, sua coerência com o mundo da realidade material. Talvez as nossas lutas não possam reconciliá-los”.
Paisagem (casa e carroça) 1950 Aquarela sobre papel
Homem de olhos vermelhos, 1960 Óleo sobre tela 60,5 x 46 cm
Noite,1960 Óleo sobre tela 107 x 66 cm
Figura I, 1969 Óleo sobre tela 91,5 x 73 cm
Sem título, 1970 Óleo sobre tela 94 x 84 cm
Duas Figuras, 1971 Óleo sobre tela 81 x 65 cm
Imagens do álbum: Helena Wong - trajetória de uma paixão - Museu Oscar Niemeyer
Um comentário:
Sem dúvida uma grande artista.Contudo suas obras são pouco valorizadas no mercado da arte.
Por que será?
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