sábado, 6 de abril de 2013

TRANSCYBER - Alcy Xavier


TRANSCYBER


ARTE  E  CIBERNÉTICA
  


“Nada há, senão o homem; porém o homem será sempre, ao mesmo tempo, aquele que acrescenta algo além de si mesmo. Não há existência senão pelo pensamento da transcendência”.

Jean Wahl
 “TRATADO DE METAFÍSICA”.
  
Verso 15

 “Cibernética  Roma
de bibliotecas tumbas (eternidade dos autores igual a do papel)
-Ave, chips !”

Helio de Freitas Puglielli
Poema - “O SER DE PARMÊNIDES CHAMA-SE BRAHMA”


  
INTELIGÊNCIA  ARTIFICIAL,
A  NORMAL  E  A  ARTE

A Cibernética, teoria de Norbert Wiener - deve ser entendida em toda a sua complexidade e relevância para a compreensão da obra de arte e do Abstrato Transfigurado em particular, seu reflexo atual na mediação da arte.
Sendo basicamente uma teoria dos sistemas de comunicação e seu controle estendido ao social, a cibernética, do grego – KYBERNETES (timoneiro), incorpora igualmente, analises de sistemas de controle de máquinas e processos de interação biológica do homem com  máquinas, tendo originado vários procedimentos de alterações e correções biônicas. As  teses de Wiener no estudo  comparativo da inteligência normal com a inteligência artificial, matemática  binária, juntamente com outros pesquisadores possibilitaram a criação da internet, a rede mundial de computadores, e sistemas avançados de integração eletrônica.
Discípulo de Bertrand Russel, Norbert Wiener incorporou ao livro “Cybernetics”, idéias do filósofo sobre o “Behaviourism” (teoria do comportamento), típica do empirismo inglês.


A  TARTARUGA CIBERNÉTICA EM CURITIBA

Naquela tarde fria dos anos cinqüenta, no Centro de Gravura, dialogávamos sobre as fotos do estranho e fascinante brinquedo científico - a tartaruga eletrônica.
Thomaz Wartelsteiner, Lourival  Marcon eu e Regina Leia Milder, minha futura esposa. Regina, competente química e física, explicava as fotos para nós, artistas. “A célula foto-elétrica vacila e pára no obstáculo devido as duas fontes de alimentação. Estas, provavelmente tem diferentes intensidades de potencial. Selecionada a fonte, ela comanda o movimento”. Concluímos que a experiência era interessante e tinha certa analogia com as dúvidas do tipo – sim-não do cérebro humano. Hoje, passadas tantas luas, o neto daquela tartaruga passeia em Marte, manda imagens e informações imediatas com análise dos materiais do planeta.
É sensato reconhecer a vertiginosa evolução da comunicação e sua irreversibilidade.
Todavia, é prudente também refletir sobre as conseqüências para o bem ou mal que essas transformações podem gerar. Aliás, o próprio Wiener fez conscientemente essa advertência.
Os cegos aguardam os olhos artificiais (que já estão sendo testados). Corações e fígados já são trocados. Mas a robótica até onde irá?
Talvez os problemas que surgirem na sequência da Cibernética sejam iguais àqueles colocados por Jaspers e apontados por Jean Wahl, causados por situações limite como guerras, atentados, morte, separações e doenças graves que conduzem-nos a angústia.
Tais eventos com certeza dificultarão os juízos de valor sobre questões como a eutanásia, a ética relativa a seres biônicos e demais problemas muito viáveis.
É dentro dessa realidade que já vivemos que a arte assume grande importância.

ARTE, DIOPTRIA  NEGATIVA

Como uma lente divergente, a arte refrata a vida num foco virtual. Assim é vista essa realidade incrível da comunicação imediata com o mundo. Porém, simultaneamente, ela ultrapassa os acontecimentos, como Adorno afirmou na ESTÉTICA – “A obra de arte é ao mesmo tempo ela e  um outro diverso de si próprio. Semelhante heteridade desorienta, porque o elemento meta-estético constituído se evapora logo que se imagina arrancá-lo ao estético e mantê-lo isolado”.
Nesse sentido a liberdade caminha com a arte, e esse é o seu componente metafísico, essa intrigante saída do homem de sua prisão corpórea.
Assim, a criação artística é a resultante da energia vital ativada e objetivada – ela é a vida mesmo como potência em ação.

O ABSTRATO TRANSFIGURADO

Atualmente seria desejável uma síntese ocidente-oriente em termos de forma. Como primeiro exemplo de uma articulação abstrata transfigurada, a xilogravura de Hokusai – A ONDA - é uma obra-prima indiscutível que impressiona pela empatia que produz no espectador, pelo desenho notável da onda na arrebentação sobre o frágil barco e os pescadores. Essas observações de Bertrand Russel continuam atuais.
A grande obra de Paul Klee concretiza a mesma riqueza no limite do abstrato.
Ela ultrapassa esse limite transfigurando as tensões óticas em ricas figurações poéticas. Esse é o caso dos seus QUADRADOS MÁGICOS que após alguma observação, lembram cidades góticas.
A mesma síntese articula o seu CALÍGULA, obra universal contra o mal,  os ditadores na ativa e demais aspirantes.     
     Nesta linha do abstrato transfigurado, os paradoxos do holandês ESCHER impressionam a todos e tem suas origens numa profunda compreensão da forma  e seus vetores. Com todo o rigor, ele consegue fazer a água subir vencendo a gravidade (na litografia - WATERFALL).
        A propósito das manchas informais e seu aproveitamento, Leonardo já dizia; “Nessas manchas emboloradas um artista saberá encontrar belas pinturas”.
       Como este texto começou com a Cibernética, vou recordar a frase de Rodin quando viu um avião: “É o sonho de Da Vinci que passa”.
        Estes  grandes  artistas sempre respeitaram   a  ciência  e  certamente  sabiam  que esta e a arte   navegam juntas na transcendência, procurando decifrar a profunda reflexão de Platão “O ser se constitui pela ação do limite sobre o ilimitado”.


Alcy Xavier  2007                            








“A Grande Onda de Kanagawa”, 1820
xilogravura 

Katsushika Hokusai
1760 – 1849

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