TRANSCYBER
ARTE
E CIBERNÉTICA
“Nada
há, senão o homem; porém o homem será sempre, ao mesmo tempo, aquele que
acrescenta algo além de si mesmo. Não há existência senão pelo pensamento da
transcendência”.
Jean Wahl
“TRATADO DE
METAFÍSICA”.
Verso
15
“Cibernética
Roma
de
bibliotecas tumbas (eternidade dos autores igual a do papel)
-Ave,
chips !”
Helio
de Freitas Puglielli
Poema
- “O SER DE PARMÊNIDES CHAMA-SE BRAHMA”
INTELIGÊNCIA
ARTIFICIAL,
A
NORMAL E A ARTE
A Cibernética, teoria de Norbert Wiener -
deve ser entendida em toda a sua complexidade e relevância para a compreensão
da obra de arte e do Abstrato Transfigurado em particular, seu reflexo atual na
mediação da arte.
Sendo basicamente uma teoria dos sistemas de
comunicação e seu controle estendido ao social, a cibernética, do grego –
KYBERNETES (timoneiro), incorpora igualmente, analises de sistemas de controle
de máquinas e processos de interação biológica do homem com máquinas, tendo
originado vários procedimentos de alterações e correções biônicas. As
teses de Wiener no estudo comparativo da inteligência normal com a inteligência
artificial, matemática binária, juntamente com outros pesquisadores
possibilitaram a criação da internet, a rede mundial de computadores, e sistemas
avançados de integração eletrônica.
Discípulo de Bertrand Russel, Norbert Wiener
incorporou ao livro “Cybernetics”, idéias do filósofo sobre o “Behaviourism”
(teoria do comportamento), típica do empirismo inglês.
A
TARTARUGA CIBERNÉTICA EM CURITIBA
Naquela tarde fria dos anos cinqüenta, no
Centro de Gravura, dialogávamos sobre as fotos do estranho e fascinante
brinquedo científico - a tartaruga eletrônica.
Thomaz
Wartelsteiner, Lourival Marcon eu e Regina Leia Milder, minha futura
esposa. Regina, competente química e física, explicava as fotos para nós,
artistas. “A célula foto-elétrica vacila e pára no obstáculo devido as duas
fontes de alimentação. Estas, provavelmente tem diferentes intensidades de
potencial. Selecionada a fonte, ela comanda o movimento”. Concluímos que a
experiência era interessante e tinha certa analogia com as dúvidas do tipo –
sim-não do cérebro humano. Hoje, passadas tantas luas, o neto daquela tartaruga
passeia em Marte, manda imagens e informações imediatas com análise dos
materiais do planeta.
É sensato reconhecer a vertiginosa evolução
da comunicação e sua irreversibilidade.
Todavia, é prudente também refletir sobre as
conseqüências para o bem ou mal que essas transformações podem gerar. Aliás, o
próprio Wiener fez conscientemente essa advertência.
Os cegos aguardam os olhos artificiais (que
já estão sendo testados). Corações e fígados já são trocados. Mas a robótica
até onde irá?
Talvez os problemas que surgirem na sequência
da Cibernética sejam iguais àqueles colocados por Jaspers e apontados por Jean
Wahl, causados por situações limite como guerras, atentados, morte, separações
e doenças graves que conduzem-nos a angústia.
Tais eventos com certeza dificultarão os
juízos de valor sobre questões como a eutanásia, a ética relativa a seres
biônicos e demais problemas muito viáveis.
É dentro dessa realidade que já vivemos que a
arte assume grande importância.
ARTE,
DIOPTRIA NEGATIVA
Como uma lente divergente, a arte refrata a
vida num foco virtual. Assim é vista essa realidade incrível da comunicação
imediata com o mundo. Porém, simultaneamente, ela ultrapassa os acontecimentos,
como Adorno afirmou na ESTÉTICA – “A obra de arte é ao mesmo tempo ela e
um outro diverso de si próprio. Semelhante heteridade desorienta, porque o
elemento meta-estético constituído se evapora logo que se imagina arrancá-lo ao
estético e mantê-lo isolado”.
Nesse sentido a liberdade caminha com a arte,
e esse é o seu componente metafísico, essa intrigante saída do homem de sua
prisão corpórea.
Assim, a criação artística é a resultante da
energia vital ativada e objetivada – ela é a vida mesmo como potência em ação.
O
ABSTRATO TRANSFIGURADO
Atualmente seria desejável uma síntese
ocidente-oriente em termos de forma. Como primeiro exemplo de uma articulação
abstrata transfigurada, a xilogravura de Hokusai – A ONDA - é uma obra-prima
indiscutível que impressiona pela empatia que produz no espectador, pelo
desenho notável da onda na arrebentação sobre o frágil barco e os pescadores.
Essas observações de Bertrand Russel continuam atuais.
A grande obra de Paul Klee concretiza a mesma
riqueza no limite do abstrato.
Ela ultrapassa esse limite transfigurando as
tensões óticas em ricas figurações poéticas. Esse é o caso dos seus QUADRADOS
MÁGICOS que após alguma observação, lembram cidades góticas.
A mesma síntese articula o seu CALÍGULA, obra
universal contra o mal, os ditadores na ativa e demais
aspirantes.
Nesta linha do abstrato transfigurado, os paradoxos do holandês ESCHER
impressionam a todos e tem suas origens numa profunda compreensão da
forma e seus vetores. Com todo o rigor, ele consegue fazer a água subir
vencendo a gravidade (na litografia - WATERFALL).
A propósito das manchas informais e seu aproveitamento, Leonardo já dizia;
“Nessas manchas emboloradas um artista saberá encontrar belas pinturas”.
Como este texto começou com a Cibernética, vou recordar a frase de Rodin quando
viu um avião: “É o sonho de Da Vinci que passa”.
Estes grandes artistas sempre respeitaram a
ciência e certamente sabiam que esta e a arte
navegam juntas na transcendência, procurando decifrar a profunda
reflexão de Platão “O ser se constitui pela ação do limite sobre o ilimitado”.
Alcy
Xavier
2007
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